Saturday, February 28, 2009
PROER Y BRASIL
PROER E A CRISE FINANCEIRA
Entre 1995 e 1997, o então presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, liderava o ranking das figuras mais criticadas no cenário econômico. Por ter sido o mentor do Proer, um programa de R$ 40 bilhões de ajuda aos bancos afetados pelo fim da inflação, recebeu ataques de líderes do PT, hoje no governo. Treze anos depois, Loyola recebe elogios do presidente Lula por ter protegido os bancos - como o Nacional e o Bamerindus - e evitado um contágio sistêmico. De repente, passou de vilão a mocinho. E o reconhecimento também vem de fora. A tendência nos Estados Unidos é de criar algo semelhante ao Proer, separando ativos bons dos podres. "Agora, o que fizemos está mais do que justificado. Viram que estávamos certos", disse ele à DINHEIRO.DINHEIRO - Quando o Banco Central estava sob seu comando, o sistema bancário brasileiro estava fragilizado e, no mundo, parecia haver solidez. Hoje é o contrário. O que causou a inversão? GUSTAVO LOYOLA - Entre 1995 e 1997, quando eu presidi o Banco Central, alguns bancos brasileiros, como o Nacional e o Bamerindus, estavam com problemas porque perderam a receita inflacionária ou simplesmente porque estavam contaminados pela corrupção. O fim da inflação pegou alguns bancos de calças curtas. Por isso, era necessário o Proer. Naquela época, não foi uma abordagem para simplesmente recuperar os bancos, mas reconhecemos que precisava haver uma mudança na regulação, o que hoje garante uma saúde para o sistema e nos diferencia do resto do mundo. Ou seja, aprendemos a regular os bancos e evitamos que a situação corresse livre como lá fora. A gente nunca teve uma regulação tão frouxa como a que existe no Exterior, o motivo da crise atual.DINHEIRO - O sr. foi muito criticado pelo Proer durante anos, mas a crise atual tem obrigado os governos a colocar em prática uma versão global do seu programa de ajuda aos bancos. Esse é um reconhecimento de que o plano não era tão ruim como diziam? LOYOLA - Quem tinha conhecimento da situação, sabia que o Proer era necessário. Agora o Proer está mais do que justificado. Viram que estávamos certos. No entanto, fui muito atacado naquela época porque diziam que eu estava colocando dinheiro público para salvar prebanqueiros. Era uma crítica irresponsável. Essa idéia amadora também tinha um grande apoio popular porque ninguém tinha sentido na pele o que significa a quebra de um banco. O preço é muito mais alto e o dinheiro acaba saindo do bolso do contribuinte do mesmo modo. Mas essa percepção começa a mudar, quase 15 anos depois.DINHEIRO - Alguns dizem que a crise atual é a pior desde a Grande Depressão da década de 30. Qual é a sua avaliação dessa crise? LOYOLA - Os indicadores mostram que temos a mais grave crise desde a Segunda Guerra Mundial. Não se pode dizer que teremos um episódio tão duradouro como aquele, que perdurou durante toda a década de 30, mas é de fato muito forte. Não acredito que tenhamos um resultado tão danoso quanto aquele. Os instrumentos atuais de política monetária e fiscal são mais bem conhecidos e todos sabem que não podem cometer os mesmos erros de 1930. Estamos vendo uma ação frenética dos governos para evitar que o sistema bancário entre em colapso. Isso deve dar certo.DINHEIRO - Quanto tempo a crise vai durar? LOYOLA - O mundo ainda vai vivenciar toda essa crise em 2009 e parte de 2010. A recuperação deve começar nas economias desenvolvidas no ano que vem. Coisas ruins ainda acontecerão. Acho que o pior dela ainda vamos sentir neste ano, no final do primeiro semestre e começo do segundo. DINHEIRO - O que é o pior da crise? LOYOLA - O pior da crise é o efeito sobre o emprego e a atividade econômica. Estamos vendo quedas muito fortes na produção industrial no Japão, nos Estados Unidos e na Europa, além de retração do emprego em todo o mundo. Fora isso, talvez o mais importante de todos os fatores que compõem a crise seja a queda do comércio internacional, que teve a primeira retração em 60 anos. Estava crescendo de forma contínua desde a Segunda Guerra. Tudo isso mostra que o pior da crise ainda terá impactos na economia real. DINHEIRO - As tentativas de salvar os bancos internacionais têm sido eficazes, na sua opinião? LOYOLA - Diferentemente do Proer, que tinha um caráter preventivo, para evitar o colapso dos bancos, hoje os governos têm agido apenas para apagar o incêndio. Ninguém sabe lidar com a situação. Não nessa escala. Nenhum governo tem uma receita de bolo pronta para tratar do assunto. Eles apenas sabem que é preciso evitar que o sistema bancário vá por água abaixo. É por esta razão que não existem muitas saídas além de injetar recursos, preservar os bancos e restaurar a confiança no sistema.DINHEIRO - Então o Proer, por ser preventivo, foi melhor do que os planos atuais? LOYOLA - O que se pode fazer, tem sido feito. Não há melhor ou pior. São cenários diferentes. Evidentemente, é melhor ter medidas preventivas, como é o caso do Proer, do que curativas. O Proer se antecipou ao pior. Mas, como não houve prevenção, muitas tentativas legítimas estão sendo feitas. O problema é que, por enquanto, há falta de articulação dos governos para tentar restaurar o sistema.
Publicado por Negocios Com Brasil en 17:30
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